segunda-feira, 15 de julho de 2013

Dom Friedrich

Nunca havíamos feito nenhum pacto BDMS ou algo do gênero.
Contudo existia em nossos íntimos, desejos e fantasias que implicavam prazer, um cadinho de sadismo, submissão e domínio, aliados a dores em doses homeopáticas.
Quase sem percebermos, fomos nos entregando aquele mundo de novas sensações, utensílios peculiares e toda uma atmosfera que nos envolvia e remetia-nos mais e mais para uma entrega imensurável. Não havia mais eu ou ela, havia o dono e sua escrava. Ambos imbuídos em extrair e proporcionar o máximo de prazer  ao outro.
Uma inocente taça de vinho a meia luz perto da lareira era o suficiente para ligar aquele botãozinho secreto que liberava nossos seres
internos e instintivos, predadores e opressores, que buscavam verdadeiras odisseias do corpo e da alma. Eram viagens a dois, não havia mais lugares nesta embarcação ainda um tanto a deriva. Também não havia rótulo, nem regras ou limites. Havia sim, um punhado de desejos latentes que gritavam para tornarem-se reais.
E foi assim que, quase sem perceber, Friedrich e sua Cadelinha “Flor” (Identidades que assumíamos em nossos encontros carregados de luxúria)  engatinhando ainda, descemos aos porões da alma. Brincávamos com grilhões imaginários, ferros quentes inexistentes, títulos de nobreza e masmorras, que agora eram reais em nosso pequeno, mas prazeroso e vasto mundo particular de prazeres e descobertas. Os limites, um a um iam sendo vencidos, contornados e
reinventados. O Dono (eu) sentia-se orgulhoso de sua sub e ela, por sua vez, completamente realizada por estar ao lado de um Dono que lhe dedicava tanto amor.
Havia uma coleira e um anel de Dono, ambos com um brasão peculiar, que significava que um pertencia ao outro e que nada nesta dimensão, teria o poder de desfazer tal entrega. Poderíamos afastarmo-nos, não nos falarmos por algum tempo e até virmos a provar o sabor ocre da ausência, mas jamais poderíamos negar o mundo que juntos, havíamos desvendado e batizado “Porões da Alma”.
Nunca fizemos um contrato por acreditarmos que estávamos contratados desde antes, muito antes,...

Cada prazer obtido e ofertado nestas entregas loucas foi considerado como prova viva de que éramos parte um do outro. E isso nos bastava naquele momento!

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