terça-feira, 25 de setembro de 2012

Casada?

Ela era linda. Mas era uma beleza diferente por ser simples e natural. Não havia grandes produções como maquilagem forte ou roupas extravagantes. Ela era linda por que nasceu linda. Deus havia sido generoso com aquela mulher.
Eu queria puxar assunto. Tinha que puxar assunto!
Sabia que em breve o ônibus viria, e ela desaparecia levando minhas chances de saber mais ou aproximar-me daquela mulher que me ofuscava os sentidos.
Eu, destreinado pela vida sedentária e acomodada, estava naquele momento com a língua travada e nada saia. Nem uma palavra sequer.
De súbito ela vira-se, dá um sorriso e nem pergunta e nem afirma. Ou seria ambos?
--- Você é casado né?
O prédio mais alto da cidade acabara de desabar sobre minha cabeça, nunca ninguém havia sido tão direta assim comigo. Mas arrisquei:
--- Tenho família sim.
--- Então é casado. Afirmou ela, sorrindo novamente, fixando o seu olhar no meu.
--- Defina “casado”. Retruquei.
--- Tem mulher, tem família, mas não perde a oportunidade de arrastar a asa quando está só. E, adora fazer um monte de coisinhas deliciosas que em casa não arrisca sequer comentar, por que provavelmente representa um papel sério e conservador.  Respondeu-me ela.
--- É. É mais ou menos isso, e você, diga-se de passagem, me faz pensar em todas estas coisinhas que passaram pela tua e pela minha cabeça neste exato momento.
--- Não vou te julgar. Não sou juíza e meu ônibus vem vindo. Pegue meu telefone. Se quiser podemos falar sobre estas “coisinhas” qualquer dia destes.
--- Vou te ligar sim. Podes ter certeza.
Nisso para o ônibus que ia para um local bem diferente do meu, ela sobe e quando a porta já estava fechando ela vira-se e confidencia-me para o meu espanto:
--- Também sou casada.
Eu ainda estava em transe, foi tudo muito rápido, mas decididamente aquele dia, aquele ponto de ônibus e, acima de tudo, aquela mulher, trariam um novo sentido às minhas tardes de solidão e vazio. Só uma coisa me perturbava e ao mesmo tempo me atentava. Aquele olhar forte e dominador que ela lançara sobre mim,... Seria prenúncio de algo ou eu apenas estava encasquetado com a objetividade  daquela mulher fascinante?

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