domingo, 20 de maio de 2012

Sobre as Diferenças,...


De descendência alemã fui ensinado desde pequeno por meus avós paternos a ter orgulho de minhas raízes e, criança que era, jamais contestei isso. Ocorre que nas décadas de 60 e 70, a Segunda Guerra ainda era um fato muito recente na memória de todos. Alie-se isso ao período da repressão política no Brasil e você terá um panorama do mundo político e cultural onde cresci.
Uma de minhas primeiras ficantes (eu tinha 16 anos) era uma garota ruiva, linda e quase dois anos mais velha do que eu. Isto era sinônimo de liberdades que até então eu não tivera. Era delicioso estar com ela e se não cito o nome dela é por que realmente não vem ao caso. Logo no primeiro mês em que ficávamos com uma certa constância ela me convida para ir ao cinema em seu clube para assistir um filme com ela.
Nunca havíamos falado sobre descendências ou coisas do gênero, mas eu sabia que ela era judia e isso não fazia a menor diferença para mim. Éramos jovens e tínhamos fome. Isso sim me importava.
Na noite marcada lá estava eu. Era o Centro Israelita de Porto Alegre. O filme? Adivinhem: Um documentário sobre Cenas verídicas concernentes ao Holocausto.
A medida que o filme ia passando e eu lendo atentamente todas as legendas, onde os alemães eram correta e peremptoriamente condenados por cada crime eu diminuía no assento. Tinha a impressão que todas as outras trezentas pessoas presentes sabiam que eu era o único descendente de alemão ali, naquele local, junto com eles e erroneamente, em meio à eles.
Eu passei a me interessar mais por tudo o que tinha a ver com o Holocausto e hoje, quase setenta anos depois desta chacina, ainda sinto vergonha do que meus ancestrais causaram à humanidade como um todo.
Mas você que me leu até aqui deve estar se perguntando o porque de eu estar contando esta história da minha vida mais de trinta anos depois. Estou certo? Bem, o fato de ter me sentido discriminado sem que ninguém soubesse absolutamente nada a meu respeito naquela sala de cinema, me fez ver ainda muito cedo e intuitivamente que todos somos “pessoas”. Não existe branco, preto, gay, judeu, esquerdista, comunista, muçulmano, pobre, rico, certo ou errado.
O que nós somos mesmo é pessoas, e é isso o que conta. Todo o resto são apenas rótulos que as pessoas impõe umas as outras ou auto impõe-se por conveniências sociais e/ou distorções culturais. Não devemos deixar que construam muros entre nós. Nossa obrigação, durante a vida toda, é derrubá-los sempre que surgirem.
Era isso. Boa matéria para se pensar num domingo de outono né!

3 comentários:

  1. Cada palavra escrita por você só faz com que eu lhe admire mais. Abaixo as diferenças!!! Bjs

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  2. Eu nunca me importei com essas coisas já passei por uma situação constrangedora em uma entrevista de emprego, sou gorda e fui eliminada na 1ª etapa da entrevista e seria normal se os eliminados não fossem mais 2 gordas, 1 negro e 2 moças sem qualificação para a vaga. Não me dei conta de quem era os desclassificados até este rapaz ir e dizer que iria fazer um boletim de ocorrência por que ele era o único negro e o único a ser eliminado e as outras moças gordas que assim como eu eramos as únicas gordas. Os outros eram os que supostamente seriam normais para a vaga e não vem ao caso o nome da instituição financeira que é uma das maiores do mundo. O Danilo que era o rapaz negro processo e fui de testemunha dele, mas não processei por que na mesma semana comecei a trabalhar na VIVO aonde eu fiz uma entrevista com os demais concorrentes e foi de igual para igual. Mas o preconceito existe e pessoas são preconceituosas mesmo que no seu íntimo, não me importo com etnia, credos ou qualquer coisa e me senti ofendida na época deste episódio.
    Beijos e desculpa o longo comentário...rsrsrs
    Ainda mais todo errado...rs

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  3. Adorei esse texto e realmente muito triste que ainda exista preconceito hj em dia.Bjks

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