A noite estava nua. E por
onde quer que eu andasse não acontecia nada. Não havia pessoas e até as
estrelas pareciam estar de folga. A penumbra escondera a própria lua e sequer
uma brisa empurrava as folhas de outono.
Eu, perambulando à esmo,
um pouco perdido com aquelas palavras
que ainda ecoavam em minha mente.
--- Vá embora. Eu amo
outra pessoa e o que aconteceu entre nós foi um erro. Dissera ela a poucos
minutos atrás.
Eu levara-lhe flores e,
estas agora jaziam tristes numa lixeira qualquer.
Restava-me tomar algo que
me fizesse ao menos adiar as coisas. Minha cabeça latejava e eu não conseguia
ainda organizar as idéias.
Finalmente uma luz no fim
do túnel, ou melhor, não era um túnel e sim um bar, mas naquele momento era
tudo o que eu mais precisava. Tá bom, tá bom, eu confesso: Caminhando sem rumo
com aquele iceberg que me destroçara como se eu fosse o próprio titanic, eu
acabei parando foi na “zona” da cidade e lá, é claro que havia bares, havia
garotas e como eu precisava de um ombro e um bom copo de cerveja, acabara por
juntar o útil ao agradável.
Entrei. Havia música e
mulheres. Alguns homens já bem encaminhados e gente subindo e descendo dos
quartos, que ficavam no andar de cima, logo depois de uma escada estreita,
íngreme e mal iluminada. No balcão, pedi uma tequila e uma long-neck. Ainda não
me sentia em condições de conversar com as meninas que estavam sozinhas.
O cara do balcão era dono
de um sorriso amarelo e incompleto. Acho até, que no fundo, meio amargurado e,
do jeito que eu estava, ser servido por ele me fazia parecer literalmente no
fundo do poço. Isso só mudou na segunda pedida, idêntica a primeira. Desta vez Cris,
uma menina de lindos caCrisos negros e curvas generosas, que estava próxima a
mim, notando a indiferença do garçom, entrou balcão a dentro e me serviu um Criso
sorriso juntamente com a bebida.
--- Meu nome é Cristine,
mas todos me chamam de Cris e eu não lembro de ter te visto aqui antes.
Proclamou a menina simpática.
--- É. Raramente eu venho
aqui. Eu respondi com um sorriso de tequila.
--- Mas e você veio só
beber ou veio buscar prazer também? Retrucou ela com um sorriso maroto e
atrevido.
--- Olha Cris,
sinceramente eu nem sei. Acabei de levar um fora e não sei se eu seria um bom
amante hoje.
--- Se eu ao menos
soubesse seu nome, talvez eu mesma pudesse decidir sobre isso.
--- Ah, desculpe. Os
amigos me chamam de Fredy.
--- Bom Fredy. Eu sou
nova aqui na cidade e na profissão. Posso sair daqui em uma hora. Se neste meio
tempo você não achar nada mais interessante e quiser dar uma volta e conversar,
... Eu moro numa pensão a umas cinco quadras daqui e você poderia me levar até
lá.
--- Vou pensar na proposta
Cris. Se eu não estiver caído antes,... rsrsrs. Sorri com um ar de deboche que
ela certamente não merecia.
Quando ela se afastou,
foi impossível não admirar suas curvas. Mulher sensual e bem torneada. A
natureza lhe havia sido generosa e num flash, mil perguntas me passaram pela
cabeça. Como o por que de uma menina tão lindinha estar alí tentando ganhar a
vida, por exemplo.
Essa foi uma das primeiras
perguntas que fiz logo que saímos. Eu não estava mais sóbrio, mas estava longe
de estar bêbado.
Cris foi direta. Disse-me
que vinha de cidade pequena, que pensara
ter engravidado do namorado e seu pai, ao saber, a expulsara de casa. O
namorado, por sua vez, até tentou ajudá-la, mas nem ao menos trabalhava. Em
poucas semanas pulando de galho em galho, entre a casa de parentes e amigos e,
praticamente não tendo o que comer, juntou as poucas coisas que tinha e pegou
uma carona que surgiu na estrada. Através de um caminhoneiro amigo seu. A
primeira transa “paga” aconteceu para saciar a fome, a segunda também, mas já a
terceira aconteceu por que ela descobria aos poucos o quanto gostava de ter e
dar prazer. A cada dia, na estrada Cris
se descobria uma puta nata e, até chegar a casa de programas foi um pulo.
Talvez a decepção com o namorado a tenha ajudado a tomar este rumo, mas isso
agora não importava mais. Disse-me que ficava triste nas noites em que não
surgia nenhum amante que lhe pagasse e, eventualmente entregava-se à algum
rapazinho entristecido e carente.
Ela sorriu um sorriso
aberto ao concluir a frase.
Eu corei, mas ela não se
importou. Estava calejada! Tão jovem e tão vivida, pensava eu com meus botões.
Qualquer homem se apaixonaria por ela facilmente. Exceto eu. Eu estava ainda
amortizado pelo fora que havia levado e sem a mínima condição de ser um bom parceiro
para ela naquela noite.
Continuamos caminhando
sem pressa. Um momento de silêncio e ouviu-se uma trovoada. A chuva não
tardaria a chegar.
Estávamos a umas duas
quadras da casa de Cris quando despencou uma chuvarada de dar inveja. Corremos
mesmo sabendo que de nada adiantaria. Sem que eu percebesse corríamos de mãos
dadas sob a chuva intensa e por mais incrível que pareça aquela situação era
divertida e excitante. Eu me sentia um menino correndo na chuva de mãos dadas com
uma menina. Parecia que eu voltara uns quinze anos no tempo e estava na época
da escola.
Chegamos ensopados
defronte a pensão em que ela morava. Agora, a marquise nos protegia, mas a
chuva teimava em não ceder e parecia que ia longe ainda.
―A dona da pensão já deve
estar dormindo. O lugar é simples, mas posso te emprestar uma toalha seca.
―Parece que eu não posso
recusar né. Estou ensopado mesmo.
―Então vem comigo. Eu
prometo não morder (só chupar)
. Falou ela, com um sorriso farto e pegando na minha mão novamente.
Cris me alcançou-me a
toalha e sem a menor cerimônia começou a despir-se. Infantilidade a minha achar
que ela agiria diferente e, confesso: Era impossível não admirá-la. Com a roupa
molhada e vendo-a nua em pelo na minha frente, foi automática a ereção que
tive. Abri a boca para tentar dizer qualquer coisa, mas esta foi a deixa para
ela me dar um beijo louco, quente e cheio de volúpia, ao mesmo tempo em que sua
mão tocava meu sexo e eu desistia de qualquer tipo de oposição aquela mulher
sedutora e suas artimanhas.
Lentamente ela me despiu.
Passou-me a toalha como quem acaricia o pêssego que vai devorar. E devorou!
Lentamente ela desceu e
foi descendo, sua língua levemente tocando meu peito, minha barriga e por fim,
meu falo. Que ela abocanhou como se fosse o tal pêssego. Eu gemia em silêncio.
Acariciava seus caCrisos mesmo querendo que aquilo demorasse horas, o primeiro
gozo era iminente.
Quando amanheceu foi que
ela virou-se para o lado e deixou-se dominar pelo sono. Foram horas de um
prazer que eu não conhecia até então. Havia requintes, havia insinuações. Não
havia pressa nem teatro. Era apenas um prazer que eu não estava acostumado a
dar e receber. É, eu estava extasiado. Aquela menina da “zona” da cidade me
mostrara nestas poucas horas que eu apenas engatinhava e havia muito o que
aprender ainda. E ela? Ela fazia com gosto. Amava fazer sexo e o fazia como
ninguém. Ela era um presente dos deuses à quem cruzasse seu caminho.
Perto da hora do almoço
acordamos, saímos para almoçar e é claro que eu nem apareci no trabalho.
Inventaria uma desculpa qualquer no dia seguinte. Após o almoço nos despedimos
com a promessa que voltaríamos a nos ver e eu fui para minha casa caminhando
vagarosamente. Cada cena da noite anterior vinha a minha mente com a força de
dez tratores e eu ainda estava zonzo. Num momento estava bebendo por levar um
fora e, no momento seguinte estava nos braços de uma menina que me mostrava que
eu nada sabia sobre o que realmente contava. “O Prazer”!
Quase meia noite, eu deitado
lendo um livro e ouvindo uma música qualquer. O telefone toca. Era a minha
adorável puta.
― Fredy. Oi, sou eu.
Desculpa te ligar a esta hora.
―Que nada, você pode
ligar sempre. Você está bem?
―Sim. Quer dizer,... Não
sei. Aconteceu uma coisa e eu estou na dúvida.
―Que dúvida Cris? Fala
menina.
―Bom. Você sabe que o que
aconteceu entre nós a noite passada foi muito gostoso. Eu amei.
―Eu também amei. Foi
delicioso. Mas o que tem a ver?
―É que tem dois caras
aqui. Eles já foram meus clientes. Só que desta vez é diferente. Eles querem
ambos estarem comigo ao mesmo tempo. Eu nunca fiz isso e tenho receio de não
dar conta ou de você não querer mais me ver se soubesse depois e por outras
pessoas. Sei lá. Acho que estou com um pouco de medinho sabe,...
―Cris, a gente saiu e foi
gostoso. Mas eu não posso mandar em você. Posso até não gostar, mas não posso
te dizer prá fazer ou não fazer. Eu disse isso com a voz meia titubeante e,
vocês acreditem ou não, novamente eu me desconhecia. Eu me senti extremamente
excitado ao ouví-la falar sobre a situação toda. Foi uma adrenalina que ela me
serviu a queima roupa. Só que eu estava gostando.
―Mas e você? Ainda vai
querer me ver se eu topar sair com eles?
―Só se você me prometer
que quando estiver indo para casa vai me ligar e contar todos os detalhes. Eu
nem acreditava que estava dizendo aquilo. Eu estava literalmente fora de mim e
agindo como nunca agira antes. Eu não era mais eu.
―Você está falando sério?
Quer mesmo que eu saia com eles e te conte depois?
―Quero. E quero que faça
tudo o que tem vontade de fazer. Só assim você vai querer continuar saindo
comigo. Se eu não te privar de nada.
―É verdade. No fundo eu
queria ouvir isso de você. Só não esperava era você querer saber dos detalhes.
Ela disse isso dando uma de suas risadas safadas.
As horas passaram e eu
não resisti. Quando ela saiu e ligou, eu atendi com um sorriso. Atravessei a
rua saindo das sombras e dei-lhe um beijo na boca com todo o tesão que a expectativa
acumulada me fizera sentir.
Fomos direto à um motel
por que o que eu mais queria naquele momento era ter aquela mulher e ouvir
pessoalmente tudo o que ela tinha para me contar.
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