segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Na Balada


A muito eu não ia para uma balada sem a presença de Mila. Essa coisa de passar anos namorando tem o lado bom e o lado ruim também. Se por um lado você tem ao seu lado alguém que em tese te ama incondicionalmente e te completa, por outro, fica aquela sensação de que a vida passa alheia a você. As coisas acontecem e não te perguntam se você concorda em não fazer parte delas. È, você que está me lendo está certíssimo(a) se pensou:
“Esse cara está entediado com sua relação”. Era esta a mais pura verdade.
Mesmo assim, não sai de casa no intuito de caçar, meu instinto predador estava guardado em alguma gaveta e eu tinha a nítida impressão que perdera a chave. O fato de Mila ter ido ao interior visitar parentes veio a calhar, era minha chance de oxigenar a mente e assistir a vida acontecer.
Eu escolhi um destes lugares onde todos vão, exceto as amigas de Mila. Seja em função de estarem casadas ou de pertencerem a outra faixa etária, superior a das meninas que freqüentavam aquele bar. Quase duas da madrugada, a música estava boa, a cerveja estava gelada, mas a vida propriamente dita eu ainda não tinha visto passar. Quando falo vida, eu quero dizer que ela dever ter seios provocantes, coxas atraentes, olhos predadores e um sorriso meigo para disfarçar e adoçar a fêmea no cio que toda mulher abriga em seu âmago.
Isto chama-se vida na minha humilde opinião.
Eu estava no balcão, de costas para a pista e nem percebi aquelas meninas entrando sem companhia. Só reparei em Natasha quando esta, ao meu lado, no balcão, pediu uma bebida.
No primeiro momento não me atrevi a olhar em seus olhos, até por que meu olhar deteve-se em seu decote. E que decote viu! Tive que conter a baba acumulada nos anos em que fora mantido em cativeiro.
Segundo momento. Meu olhar altamente detalhista notou as pernas de uma deusa, digna de uma lenda grega. Seus olhos, seu sorriso, seu,... Tão rápido como veio ela foi-se, mas para inflar meu ego, ela vira-se já um pouco ao longe e me presenteia com um sorriso que com certeza, tinha muita vida bombando, muita energia e um punhado de entrelinhas que, eu faria de tudo para desvendar.
Destreinado que estava fiquei pensando na melhor abordagem para me aproximar daquela menina que roubara todos os meus olhares e alguns bons desejos. Foi aí que me perdi em pensamentos contraditórios. Eu não deveria estar ali, não deveria desejar alguém e estava sendo um fraco. Afinal tinha Mila, que deveria, naquele momento estar na estrada ainda. Não era justo. Pensei em voltar para casa, pensei em ficar. A quanto tempo não me sentia como um garoto indeciso. Seria isso também vida?
Foi justamente quando me dirigia à porta que senti aquela mão macia sobre o meu braço.
--- Ei, você não esqueceu nada?
Na iminência de me virar e ver quem era, recebi um beijo de língua de tirar o fôlego de qualquer quarentão desavisado. E era exatamente isso que eu era. Retribui e a apertei com força contra mim.
Havia um canto próximo ao fundo do bar, menos iluminado. Uma espécie de matadouro, eu acho. Foi lá que tive em minhas mãos aquele mel quente e adocicado, que vertia feito presente de boas vindas. Foi ali também que senti a maciez e rigidez flamejante daquele par de seios ainda tímidos, mas famintos de boca e carícias.  Ficamos assim por algum tempo, curtindo um o que o outro oferecia. Era uma troca impar que com certeza eu poderia chamar de “vida”.
Natasha me olha dentro dos olhos, sorri com cara de safada e cochicha dentro de um dos meus ouvidos.
--- Vou te dar um presente. Que é para você querer sempre mais.
Lentamente foi se abaixando, sem tirar os olhos dos meus. Abriu meu zipper e me presenteou com um boquete destes de causar inveja a qualquer um que estivesse no bar nos observando. Eu a pressionava contra a parede e assim permaneci pensando comigo mesmo em como uma menina aparentemente tão angelical podia estar fazendo aquilo tão bem. É claro que eu gozei logo, estava sem prática, destreinado e, parecia eu o brinquedo nas mãos daquela ninfa gulosa.
Ela ergueu-se com a mesma lentidão que descera, novamente me fitando e sorrindo. Tirou da bolsa um pequeno lencinho, limpou o canto da boca e deu-me um beijo, novamente de surpresa, que eu retribui com aquela carinha pidona de quem quer mais. Muito mais.
Me pegou pela mão e fomos até o balcão tomar algo. Lá chegando ela pega um guardanapo, seu batom e escreve seu telefone. Entrega-me novamente me fitando e sussurra em meu ouvido.
--- Agora você pode ir. Vou adorar se ligar.
Deu as costas e foi-se. Logo a perdi de vista na pista. Guardei o papel e sem saber por que a obedeci fui em direção a porta em câmera lenta.
Quando cheguei em casa ainda estava um pouco esquisito. Tenso e relaxado, pensativo e confuso. Desejoso e culpado. Eram tantas sensações que eu nem me lembrava de que as possuía todas em meu íntimo. Decididamente aquela noite mudara a minha vida e ficara uma única certeza:
Eu já a imaginava nua e queria muito aquela mulher.  Ela seria minha mesmo que isto custasse toda a pseudo-estabilidade atrás da qual eu me escondera por todos aqueles anos. Na segunda eu liguei para Natasha marcamos de conversar em algum lugar legal. Muitas coisas boas ainda aconteceriam. Mas isto eu conto outra hora.

5 comentários:


  1. você...:)

    está com medo, é?

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  2. VC anônimo(a) leu o conto todo?


    Obrigado por comentar

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  3. Alguma loucura às vezes é necessária para limpar a mente!!...

    K

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  4. Vida, quente e cheio de tesao...amei e não é confete , amo seus contos...bjos!

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  5. Incrível, sabe, tenho exatamente essa mesma sensação de estar vendo a VIDA acontecer sem mim e mesmo vivendo todas as minhas taras no meio liberal e ao lado de alguém incrível como é meu Dono e Corno...

    Delícia de relato!!!!

    Carol

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